19 de out. de 2014

Aécio e PSDB poderão provar ao Brasil que deveríamos optar pelo PT em 2014

Embora não seja historiador, sou um entusiasta de análises de fatos de eras históricas para que possamos entender melhor a realidade do universo mais próximo de nossa atualidade.

Aécio Neves e Dilma Roussef no Senado Federal. Foto: FolhaPress
Na década de 1980, em pleno movimento pelas Diretas Já, presenciei este grande momento como uma criança ávida por entender a realidade que me rodeava.  Muito influenciado por meu pai, que participou deste movimento em minha cidade natal, Araranguá/SC, eu tentava entender o que se passara antes de eu nascer e o que estava ocorrendo em frente aos meus olhos neste movimento democrático que devolveu à sociedade civil as rédeas da nação.

Foi uma época muito interessante para uma criança que crescia e buscava instintivamente sua identidade num mundo em grande transformação. Diretas Já no Brasil, queda do muro de Berlim na Alemanha, Guerra das Malvinas na Argentina, fim da Guerra Fria entre EUA e a ainda existente URSS, Perestroika e Glasnost na URSS, Constituinte de 1988 no Brasil, e outras grande s mudanças ocorriam neste momento da história fascinavam e traziam muitas esperanças de dias melhores a todo o mundo.

Com as mudanças políticas na volta da democracia no Brasil, finalmente em 1989 ocorreram as tão sonhadas eleições diretas, em que os cidadãos poderiam finalmente escolher seus representantes. Nesta eleição, lembro bem da disputa entre Lula (Luiz Inácio da Silva) e Fernando Collor de Melo, em que eu defendia aguerridamente Lula e pensava que finalmente alguém ia dar um jeito nos males do Brasil. E eis que o povo escolheu no país todo representantes que vinham dos movimentos democráticos. Quase todos remanescentes do antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro) que havia se transformado em partido passando a ser conhecido como PMDB.

Não demorou muito para que os novos representantes, travestidos de democratas, aos poucos fizessem aquilo que sempre condenavam e iniciassem um processo de nepotismo, enriquecimento ilícito, corrupção e diversas outras ações que iam contra todos os princípios que levaram estes políticos aos governos federais, estaduais e principalmente municipais. Nesta época, infelizmente, também fui testemunha da decepção que meu pai teve ao ver isso ocorrendo nas mãos de representantes que ele mesmo batalhou para serem eleitos. Muitas das coisas que os movimentos democráticos condenavam nos mandatários escolhidos pelo Regime Militar (1964 e 1986) eles repetiram em larga escala em todo o Brasil. Mas, é importante ressaltar que, embora tenham trabalhado contra a população e os interesses que defendiam, fizeram um ótimo favor à democracia brasileira e não estou me referindo a retirada dos militares do poder. Eles provaram para a recente história do Brasil que não basta um partido de esquerda tomar o poder para que resolvamos todos os males de desenvolvimento que temos.

Acelerando um pouco no tempo e passando pela estabilização da economia ocorrida nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, vimos finalmente o então remanescente dos movimentos trabalhistas do ABC paulista chegar ao cargo máximo do executivo. Lula chega à presidência em 2002 com muita esperança da sociedade, inclusive eu. Foi realmente emocionante assistir esta nova onda democrática de mudanças no Brasil, quando muitos tinham a certeza de que teríamos enormes avanços em áreas que antes não tinham sido assistidas. Entre Lula e Dilma (2002 - 2014), se passaram quase 12 anos na presidência, com amplo apoio de diversos movimentos sociais, com reconhecimento no Brasil e no exterior. Mas durante este tempo, também foram numerosos os casos de corrupção, enriquecimento ilícito, aparelhamento da máquina estatal em benefício dos membros do PT (Partido dos Trabalhadores) e do próprio partido. O caso mais conhecido foi o Mensalão, em que vários membros do congresso recebiam valores mensais para aprovar projetos seja no Congresso Nacional como no Senado. Em muitos casos, várias campanhas no executivo ou legislativo e até mesmos a presidência foram financiadas com capital oriundo de corrupção e outras formas de captação de recursos que viraram regra nos governos do PT. Fala-se até que em várias instâncias do governo, membros do partido que ocupam cargos de confiança são obrigados a doar ao partido uma percentagem de seu salário como uma espécie de dízimo político para manter o projeto de poder em longo prazo para as eleições que virão. Existem denúncias também contra gestões de outros partidos, inclusive do PSDB e seus aliados.

Em 2014, assistimos uma guerra política muito estranha, onde em ambos os lados temos remanescentes dos movimentos democráticos que retomaram o poder das mãos do militares.  De um lado temos os defensores do PT e de seus avanços na área social e de outros temos os simpatizantes do PSDB que também representam uma grande parte da população que defende um sentimento “anti-PT”, que é contra todos os casos de corrupção na esfera federal. Em ambos os lados, percebe-se que “é o roto falando do rasgado”, pois ambos os lados tem casos de nepotismo, corrupção e enriquecimento ilícito. Comparo a disputa neste ano de 2014 a uma febre, onde o organismo nação brasileira está tentando se curar para melhorar a situação geral. Mas a situação é esquisita, pois de um lado estão simpatizantes do PSDB que defendem Aécio Neves e são rotulados por não fazerem parte da camada mais necessitada da população, chamados de “coxinhas” pelos simpatizantes do PT. Já os simpatizantes do PSDB por sua vez rotulam os petistas de PTralhas, em citação aos irmãos metralhas das histórias em quadrinho e desenhos animados de Wall Disney. A situação muitas vezes beira a loucura religiosa e dogmática do oriente médio, pois muitos esquecem que são amigos e esquecem que a eleição passa e muitas vezes a situação se inverte, seja no âmbito pessoal como no nacional. Quem afinal de contas imaginaria o Partido dos Trabalhadores sendo apoiado e apoiando Fernando Collor de Melo, Paulo Maluf, Renan Calheiros e outros que sempre condenaram e que condenaram este partido. É a eleição mais esquizofrênica que o brasileiro já pode ver neste período curto de democracia brasileira (menos de três décadas).

A este ponto você deve estar se perguntando “em quem este cara vai votar”? Confesso-te que é a primeira eleição que não tenho um candidato convicto a presidência. Afinal em ambos os lados temos representantes de governos anteriores que trouxeram muitos avanços à nação e aos brasileiros. Seja com o PSDB e a inegável estabilização na economia ou com o PT e a criação de inúmeras universidades e os avanços no âmbito social, há inúmeros motivos pra votar em qualquer uma das duas opções. Não citarei defeitos, pois as redes sociais já estão repletas de defensores que mais atacam do que mostram avanços.

Fazendo uma análise com distanciamento histórico, penso que temos aí 25 anos desde a primeira eleição depois do regime militar, sendo que nos últimos 12 anos o PT esteve a frente do executivo. Eu, como muitos outros brasileiros que votaram em Lula nas eleições de 2002 e 2006, estou desapontado com o PT e opto em 2014 por Aécio neves. Entretanto, não voto com convicção, pois acredito que merecíamos duas opções e dois partidos muito melhores para o nosso país. Mas, é o que temos para o jantar. Além disso, é a nossa realidade nos possibilita até agora, afinal temos uma democracia embrionária, carente de maturação e amplas melhorias.

Por que voto Aécio? Porque quero ter certeza de que entre as duas opções que temos, a melhor opção seria ao final Dilma Roussef e o PT. Você deve estar pensando quão maluco sou eu. Não faz sentido pra você?

Ambos os partidos e representantes tem vários defeitos, mas eu quero pagar pra ver o PSDB e Aécio Neves nos mostrar que podemos (nós como nação) fazer melhor do que o PT e Dilma Roussef fez, sem falar nas gestões de Lula e inclusive Fernando Henrique Cardoso.

Caso Aécio ganhe este eleição, serão os mais longos e tenebrosos anos que o PSDB e seus membros viverão a frente da nação, pois terão que provar a todos nós que podem oferecer uma melhor forma de governar o Brasil. Dilma Roussef estava certa quando afirmou num dos últimos debates que nestas eleições se confrontam duas visões de Brasil. Isso é muito bom para a efervescência da democracia brasileira, pois confronta duas formas de ver e administrar uma nação. Ganhamos muito com isso, mas perdemos muito quando apenas uma das visões de governo tem a oportunidade de demonstrar do que realmente é capaz. E neste caso não há como comparar as administrações de estados e municípios, pois a “direção da boleia” do Brasil se dá mesmo é em Brasília, para onde vai a grande parte do nosso rico dinheirinho em forma de impostos.

Por que não voto na Dilma? Porque não concordo com os últimos e recentes casos de corrupção, mas principalmente pelo mesmo motivo exposto acima. Precisamos colocar a prova formas de governo diferentes para poder saber em médio e longo prazo quais das opções trarão mais retorno à população dentro e fora do país.

E se Aécio fizer um melhor governo com vários avanços ao Brasil, inclusive no âmbito social? Note que não estou dizendo que ele vai fazer este excelente governo. Na sua análise, existe esta possibilidade ou não? Ao fim, se percebermos em outubro de 2017 que todos que as gestões anteriores do PT eram muito melhores, elejamos então candidatos do Partido dos Trabalhadores para governar o Brasil de 2018 até as décadas seguintes ou mais.

Convido você a fazer uma análise bem menos imediatista para que a nossa democracia possa ao final evoluir e possamos viver em um país mais soberano, democrático, com IDH acima das médias mundiais e sejamos referência não só no samba, nos esportes e nos atributos naturais, seja na batuta de representantes do PT ou PSDB.

Por fim, posso lhe dizer que, caso o PSDB estivesse a frente do Brasil de 2002 a 2014, muito provavelmente eu teria a mesma opinião e faria esta análise declarando meu atual voto a um representante do PT.

Vicenzo Berti
Florianópolis, 19 de outubro de 2014.


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